Um homem que vive com HIV desde a década de 1980 foi curado, dizem seus médicos. Este é apenas o quarto caso do tipo no mundo. Ele recebeu um transplante de medula óssea para tratar uma leucemia, e o doador era naturalmente resistente ao vírus.
O homem de 66 anos, que pediu para não ser identificado, parou de tomar medicamentos para o HIV. Ele disse estar “mais que grato” pelo vírus não poder mais ser encontrado em seu corpo.
O homem é conhecido como o Paciente City of Hope (“Cidade da Esperança”, em português) em homenagem ao hospital onde foi tratado em Duarte, na Califórnia. Muitos de seus amigos morreram de HIV no passado, antes que os medicamentos antirretrovirais pudessem dar a estas pessoas uma expectativa de vida quase normal.
O que é o HIV e a Aids?
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) afeta o sistema imunológico do corpo. Ele pode levar à Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida) e dificultar a defesa do corpo contra infecções.
Em 2021, cerca de 650 mil pessoas morreram por complicações da Aids no mundo, segundo a Unaids, o programa das Nações Unidas para o combate à doença.
Atualmente, existem tratamentos eficazes que podem controlar o HIV e evitar que ele se espalhe pelo corpo. Esses tratamentos são chamados de terapia antirretroviral (TARV) e consistem em tomar uma combinação de medicamentos diariamente.
No entanto, esses medicamentos não eliminam completamente o vírus do organismo. O HIV pode permanecer “escondido” em algumas células, chamadas de reservatórios virais, e voltar a se multiplicar se o tratamento for interrompido.
Por isso, encontrar uma cura definitiva para o HIV é considerado um dos maiores desafios da medicina.
Como foi o transplante?
O paciente foi monitorado de perto após o transplante, e seus níveis de HIV se tornaram indetectáveis em seu corpo e permanecem assim há mais de 17 meses.
“Ficamos entusiasmados em informá-lo que seu HIV está em remissão e que ele não precisa mais tomar a terapia antirretroviral que estava usando há mais de 30 anos”, disse Jana Dickter, infectologista do hospital City of Hope.
Ele recebeu o transplante de medula óssea não para tratar o HIV, mas porque desenvolveu leucemia aos 63 anos. A equipe médica responsável pelo seu tratamento decidiu que ele precisava do transplante para substituir sua medula óssea doente por células normais.
Por coincidência, o doador era resistente ao HIV. O HIV entra nos glóbulos brancos do nosso corpo usando uma porta microscópica – uma proteína chamada CCR5. No entanto, algumas pessoas, incluindo o doador, têm mutações CCR5 que fecham essa porta e impedem a entrada do vírus.
Quem são os outros pacientes curados?
O primeiro caso de cura do HIV foi anunciado em 2008. Ele ficou conhecido como o Paciente de Berlim e se chamava Timothy Ray Brown. Ele também recebeu um transplante de medula óssea de um doador resistente ao HIV para tratar uma leucemia. Ele morreu em 2020 por causa de um câncer recorrente.
O segundo caso foi revelado em 2019 e ficou conhecido como o Paciente de Londres. Ele se chama Adam Castillejo e também recebeu um transplante de medula óssea de um doador resistente ao HIV para tratar um linfoma. Ele está há mais de três anos sem sinais do vírus.
O terceiro caso foi relatado em 2020 e ficou conhecido como o Paciente de Düsseldorf. Ele é um homem de 53 anos que também recebeu um transplante de medula óssea de um doador resistente ao HIV para tratar uma leucemia. Ele está há mais de dois anos sem tomar medicamentos para o HIV.
Além desses casos, há também o chamado Paciente de São Paulo, que é um brasileiro que teria se curado do HIV após receber uma combinação de medicamentos antirretrovirais e nicotinamida, uma forma da vitamina B3. Esse caso ainda está sendo investigado pelos pesquisadores.
Qual é o impacto dessa descoberta?
Os casos de cura do HIV são importantes porque mostram que é possível eliminar o vírus do organismo humano, pelo menos em algumas situações.
No entanto, eles não representam uma solução viável para a maioria das pessoas que vivem com o HIV, pois envolvem procedimentos arriscados, caros e complexos, que só são indicados para pacientes com câncer no sangue que não respondem a outros tratamentos.
Além disso, os doadores com a mutação CCR5 são raros e nem sempre compatíveis com os receptores. Estima-se que apenas cerca de 1% das pessoas de ascendência europeia tenham essa mutação.
Por isso, os cientistas continuam buscando outras formas de curar o HIV, como vacinas, terapias genéticas ou combinações de medicamentos que possam eliminar os reservatórios virais.
Enquanto isso não acontece, a melhor forma de prevenir e tratar o HIV é usar preservativos nas relações sexuais, fazer testes regulares e tomar os medicamentos antirretrovirais conforme a orientação médica.
Fontes:
*HIV: médicos anunciam 4º caso de cura | Saúde | G1 (globo.com)
*Aids (globo.com)
*Anvisa aprova novo tratamento para HIV (www.gov.br)
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